Inalantes:





Uma série de solventes orgânicos voláteis são inalados "pelo barato". A lista de produtos é enorme: gasolina, querosene, thinner, aguarrás, cola de avião (com este nome pois era usada para aeromodelismo), cola de sapateiro, cola de madeira, produtos para remoção de verniz, os próprios solventes para tintas e vernizes à óleo, fluído para isqueiro, aerossóis com dispersantes orgânicos (desodorantes, desengordurantes e desengraxantes), removedores de esmalte de unhas, e os tradicionais "cheirinho da loló" e "lança-perfume".

As substâncias ativas destes produtos incluem o tolueno, a acetona, o benzeno, o xileno, tricloretano, percloretileno, 1,2-di-Cl-propano, hidrocarbonetos halogenados. Estes tóxicos são motivo constante de preocupação em Medicina do Trabalho, pois todos eles causam danos sérios ao organismo, mesmo em pequenas doses. Na intoxicação intencional, o prejuízo é extraordinário.

Agregam-se aos solventes orgânicos os anestésicos voláteis (éter, clorofórmio, óxido nitroso), cujo efeito é semelhante.

Segundo estatísticas americanas confiáveis de 1989, 9% dos jovens de 12 a 17 anos já experimentou alguma droga inalante em sua vida. No Brasil, é possível que esta percentagem seja bastante maior, pois os "lança-perfume" e os "lolós" são parte integrante da cultura "recreativa" dos nossos jovens.

O maior problema dos solventes orgânicos é o grupo de pessoas que geralmente os usa: jovens de 6 a 16 anos, principalmente meninos de rua e crianças/ adolescentes envolvidos em "gangues" mais ou menos organizadas.

Com o corpo ainda em desenvolvimento, jovens antes dos 18 anos têm dificuldade de metabolisar a droga, estando mais susceptíveis a seqüelas e complicações do que os adultos.

Os solventes orgânicos são poderosos depressores do SNC, e, caracteristicamente, devem seu efeito a lesão celular direta sobre o neurônio. A morte celular dos neurônios e das células da glia (que são "babás de neurônios") é marcante durante a intoxicação.

Do ponto de vista clínico, todos os menores envolvidos com inalantes têm outros diagnósticos psiquiátricos, sendo que invariavelmente vêm de lares com problemas sociais marcantes.

Como as substâncias tóxicas são baratas, facilmente acessíveis, e, na prática, legais, o uso é extensivo nas ruas das grandes cidades.

O inalante é aspirado diretamente do frasco, de uma lata, dentro de um saco plástico ou de um trapo (ou a própria manga) mantido junto ao nariz.

A intoxicação geralmente aparece em 5 minutos, e dura 15 a 30 minutos. Os sintomas são certa desinibição e euforia inicial, com comportamento potencialmente impulsivo e agressivo, logo substituídos por tontura, incoordenação motora, dificuldade de andar e fala arrastada, tontura, sensação de flutuar, anestesia, sensação de poder, letargia, sensação de que o tempo está parado, náuseas, alterações visuais. Em doses maiores, torpor e mesmo inconsciência. Pode ocorrer a morte por parada respiratória, arritmia cardíaca, asfixia (por exemplo, perde os sentidos com o nariz e a boca dentro de uma saco de plástico com a droga) e acidentes.

Ocorre tolerância substancial após o uso repetido, mas parece não haver dependência física, ou sintomas de abstinência.

Talvez, esta seja a única dependência química de causa estritamente social e ambiental. O tratamento é mais dirigido à intervenção social e resgate psicológico de padrões sociais de comportamento. A mera ação social (por exemplo, abrigos para menores) não resolve as múltiplas alterações de conduta, assim como intervenção terapêutica independente de atuação direta no ambiente social também tende a ser ineficaz. O modo de vida dos dependentes de inalantes parece levá-los à dependência social da droga, sendo a única das dependências químicas nas quais não se estabeleceu um padrão de tendência genético - emocional, mas ambiental e social.

Parece que a dependência de inalantes é sempre secundária, o que a diferencia da maioria das dependências químicas.

As conseqüências do uso são sérias e rápidas; algum dano hepático é a regra, podendo haver lesão hepática, renal e muscular irreversíveis.

Cada intoxicação significa considerável perda neuronal, sendo que, em menos de 2 anos de uso, pode ocorrer atrofia cerebral.

O padrão intelectual tende a cair com a repetição do uso, sendo que a maioria dos pacientes acompanhados demonstrou uma redução progressiva da memória, da atenção, e do próprio QI. Não raramente, usuários crônicos atingem a completa demência antes de completarem 18 anos.

Além das substâncias tóxicas em si, estes produtos freqüentemente têm contaminantes também prejudiciais, como metais pesados, cobre e zinco.

Embora dependentes químicos de outras drogas freqüentemente tenham uso esporádico de inalantes, principalmente como alternativas para as drogas "clássicas", o uso crônico de inalantes após os 16 anos de idade é extremamente raro.

Muitos dos dependentes de inalantes acabam enveredando pelo caminho de outras drogas mais "clássicas", como a cocaína e a maconha, pelo risco social associado à predisposição individual.

Infelizmente, a mortalidade dos dependentes de inalantes é assustadoramente alta antes dos 16 anos.






Data de criação da primeira página da Associação na Internet: 22/05/98

Data da última atualização desta página: 30/05/00