Anfetaminas



Curiosamente, a primeira anfetamina foi desenvolvida nos anos 30, quando se buscavam novos descongestionantes nasais. Algumas anfetaminas foram usadas para tratamento de resfriados e rinite alérgica, embora em baixíssima dose e por pouco tempo, sendo logo abandonadas pela grande gama de possíveis colaterais graves.

As anfetaminas são medicamentos sintéticos que foram usados antigamente para tratamento da depressão. Hoje em dia, com mais de 100 antidepressivos que não causam dependência no mercado, é inadmissível o uso de anfetaminas para tratamento da depressão.

Existe somente um medicamento baseado em anfetamina no Brasil com uso justificável na Medicina: o metilfenidato. Este medicamento é específico para o uso em crianças antes da puberdade com transtorno de hiperatividade que não responderam a tratamento não-medicamentoso e aos antidepressivos, que não geram dependência. Nestas condições, em crianças pré-puberdade com transtorno de hiperatividade, as anfetaminas não geram dependência. O único uso médico recomendável de anfetamina em adultos é para alguns transtornos do sono, raríssimos.

As anfetaminas são drogas estimulantes do SNC, causadoras de euforia. Salvo alguns detalhes de interesse somente médico, os efeitos e a capacidade de gerar dependência das anfetaminas são similares aos da cocaína.

A dependência de anfetaminas aparece rapidamente.

Existem duas faces do problema de dependência e abuso de anfetaminas no Brasil: um legal, outro ilegal.

Os derivados de anfetamina são parte integrante dos inibidores de apetite, usados em regimes de emagrecimento, tanto dos medicamentos fabricados em laboratórios farmacêuticos, como das "fórmulas de emagrecimento" preparadas em farmácias de manipulação. Receitados e tomados como parte integrante de regimes de emagrecimento (ou pior, em substituição aos esquemas progressivos de controle de peso baseados no controle do aporte de calorias na alimentação e aumento do gasto de calorias através do condicionamento físico gradual), freqüentemente escapam do controle do médico e do próprio paciente, que passa a viver uma dependência química. Com grande freqüência, o paciente acaba consultando vários médicos em busca de receitas do remédio "com que faz tratamento", e que tem que tomar "senão engordo de novo", ou pior, busca no mercado ilegal a droga para suprir sua dependência.

Como a maioria das pessoas que tomam inibidores de apetite são mulheres jovens com alguns quilos a mais e uma grande consciência de seu corpo, estas constituem uma grande parcela dos dependentes de anfetaminas no Brasil.

Como as anfetaminas, além de suprimir o apetite, também prejudicam o sono e causam irritabilidade e ansiedade, na tentativa de contrabalançar estes colaterais, um calmante benzodiazepínico (que, por sua vez, também é gerador de dependência) é acrescentado à anfetamina na maioria dos medicamentos e fórmulas manipuladas. É como alguém dizer, "Posso tomar minha sopa a 100°C, porque com ela vou tomar um copo de água gelada a 1°C. A média é cerca de 50°C, uma boa temperatura para uma sopa!". Só que nunca o resultado é 50°C na prática. O mesmo ocorre nas associações de anfetaminas e benzodiazepínicos: algumas pessoas reagem mais aos benzodiazepínicos, outras à anfetamina, mas em todos os casos o que se obtém da associação dos dois é somente a adição de mais efeitos colaterais.

Por exemplo, freqüentemente, as anfetaminas produzem depressões graves em pessoas predispostas, pois são "auxiliadas" na tarefa pelo calmante.

A única associação que funciona para quem quer perder peso sem perder saúde é a de dieta controlada + exercício físico. Infelizmente, não existem soluções rápidas e fáceis...

As anfetaminas, sendo baratas e de fácil fabricação, mantém um comércio clandestino bastante rico no Brasil e em outros países. Apelidadas de "boletas" ou "rebites", são facilmente encontradas a preço módico nos lugares mais inapropriados, como alguns postos de combustíveis e restaurantes de beira de estrada. Ninguém sabe exatamente de onde vêm, mas o suprimento é contínuo.

São usadas por alguns motoristas profissionais, principalmente de veículos de carga, para diminuir o sono e lhes permitir dirigir por longos períodos. Isto representa um perigo para o usuário e para os demais motoristas da estrada, pois, se o sono diminui a capacidade de dirigir com segurança, a anfetamina pode cortar o sono, mas não atenua a fadiga, somente a mascara, e acrescenta os seus próprios efeitos de diminuir a concentração, perturbar o raciocínio e o controle dos impulsos à limitação da fadiga. A melhor maneira de aliviar o cansaço, a fadiga e o sono, ainda é dormir.

Estudantes, ocasionalmente, em véspera de provas, usam anfetaminas para permanecerem acordados estudando durante a noite. Da mesma maneira, a anfetamina tira o sono, mas provoca desconcentração e ansiedade, reduzindo a capacidade de ler e estudar, além da fadiga, que não é retirada pela droga: se não a sentimos, não significa que não está mais lá. A depressão, a ansiedade e a fadiga acumuladas, no dia seguinte, são péssimas coisas para se levar para provas. Novamente, nenhum medicamento substitui o estudo progressivo e diário.

Dependentes de drogas por vezes fazem complicados esquemas de drogas, que podem incluir anfetaminas. O resultado por vezes é desastroso, pois associações de drogas psicoativas freqüentemente dão resultados desfavoráveis; os que têm a sorte de não desenvolverem inibição respiratória ou parada cardíaca, geralmente entram em um ciclo vicioso de drogas: "Preciso de duas destas para acordar, e duas destas para dormir".

Alguns desportistas tomam anfetaminas, uma forma de doping para obterem maior sentimento de energia. No entanto, a fadiga e o cansaço são mecanismos de defesa, com uma finalidade biológica clara: evitar que exageremos e causemos dano ao corpo por atividade excessiva. Atletas em uso de anfetamina estão também em especial risco de aumentos fatais de pressão arterial e falha cardíaca por arritmia ou infarto. E as anfetaminas perturbam a coordenação motora, fundamental em todos os esportes.




Data de criação da primeira página da Associação na Internet: 22/05/98

Data da última atualização desta página: 30/05/00