Alucinógenos ou psicodislépticos ou psicotomiméticos são drogas que, mesmo em pequena quantidade, provocam alucinações (ver, ouvir, sentir coisas que não existem) e delírios (idéias falsas, absurdas até, que o indivíduo acredita serem reais). Não estimulam ou deprimem o funcionamento do Sistema Nervoso Central, mas o perturbam. "Psicodisléptico" significa "que dificulta a função mental", e "psicotomimético", "que simula psicose" (o termo médico para os quadros de "loucura").
O LSD é uma droga sintética, obtida em laboratório. A sigla é a abreviatura do alemão Lysergische Säure Diethilamine, ou dietilamina do ácido lisérgico, em Português. Inicialmente, foi chamado LSD-25, e às vezes ainda é chamado assim. Seu nome "de rua" mais conhecido é, simplesmente, "ácido".
O primeiro a provar os efeitos mentais do LSD, em 1943, foi o seu descobridor, o químico suíço Albert Hoffmann, ao ingerir acidentalmente uma pequena quantidade da substância. Como Hoffmann estava interessado em obter derivados dos alcalóides do Ergot ou esporão do centeio, um fungo parasita dos grãos de centeio e trigo, descreveu o ocorrido e se ocupou da ergotamina, ainda um veneno mas menos perigosa. Alguns estudiosos ao lerem a descrição vívida de Hoffmann se animaram com a possibilidade de contar com uma droga que provocasse psicose para pesquisa, sendo que o LSD ainda é uma droga usada para provocar artificialmente psicoses em animais. No entanto, outras pessoas com fins menos nobres anteviram as possibilidades do LSD, e ele foi quase que imediatamente lançado como droga de abuso.
Nos anos sessenta, com o movimento Hippie, que endeusou um modo "psicodélico" de vida, o LSD teve seu auge. Foi cantado em músicas, como nas iniciais e na letra da canção "Lucy in the Sky with Diamonds", de John Lennon, de 1974, cuja letra fala em céus de goiabada, flores de celofane crescendo, táxis de jornal, pessoas-de-balanço (uma figura de linguagem com cavalos-de-balanço) e um carregador de malas feito de plasticina, uma espécie de massa de modelar; enfim, o nome é apropriado, pela desconexão do pensamento refletida na música.
O LSD provoca alucinações visuais vívidas, consideradas bastante "divertidas" pelos usuários. Mas também provoca "bad trips" ("más viagens"), com depressão, paranóia, desespero, pânico, alucinações atemorizantes. Estas podem assustar o usuário, principalmente se não houver o reforço social ao uso da droga.
É difícil pegar algum livro sobre drogas que não dê demasiada ênfase na frase "O LSD não provoca dependência física." Esta frase é usada pelos usuários e simpatizantes para tentar demonstrar que o LSD é somente uma droga "recreativa", e não uma droga de dependência. Alguém se expor a algo que, sabidamente, vai lhe misturar os pensamentos, lhe fazer ver coisas, lhe fazer ter pensamentos e sensações estranhos, que o retiram do estado em que se sentir um Ser Humano, é dependência segundo a lógica. O que os cientistas afirmam é que os comportamentos de dependência física não foram observados em animais de laboratório. Ratos não pressionam alavancas que lhes injetam LSD até morrer, demonstrando uma dependência evidente, como fazem com a cocaína; no entanto, freqüentemente ratos expostos ao LSD desde a primeira vez se tornam incapazes de pressionar uma alavanca ou fazer qualquer coisa "produtiva" para um rato...
Com o final dos anos 70, o LSD se tornou uma droga "ultrapassada", substituída por outros alucinógenos mais modernos.
Ocasionalmente, ainda se vê o uso esporádico no Brasil, principalmente em dependentes de múltiplas drogas.
Várias plantas de famílias botânicas bem diferentes entre si possuem alcalóides alucinógenos, com efeito semelhante ao do LSD.
Índios Yaqui, Tarahumara e Huichol, oriundos do sul dos EUA e norte do México, usam os botões do cacto Peyote, Lophophora williamsi, em cerimônias religiosas próprias, havendo uma religião, o Peyotismo, dedicado ao pequeno cacto, rico em mescalina, um potente alucinógeno. Principalmente nos anos 60 e 70, muitos escritores e artistas experimentaram a mescalina, alegadamente como fonte de "inspiração".
As tribos dos planaltos mexicanos usam várias espécies de cactos alucinógenos sagrados para eles, do gênero Psilocybes sp. O alcalóide alucinógeno isolado foi a psilocibina. A tribo Nahuatl chama estes cogumelos de teonanacatl, "carne de deus". Também nos "loucos" anos 60, poder-se-ia dizer que era moda entre escritores e artistas experimentar psilocibina.
No Brasil, temos alguns cogumelos que são colhidos no campo com o fito de preparar chás alucinógenos. Como a identificação das espécies é difícil, e existem cogumelos bastante venenosos, por vezes o efeito tóxico obtido não é somente psíquico.
Também no Brasil, temos o Santo Daime, o centro de um culto baseado na região amazônica. Os índios da região tomavam um chá que chamavam huasca ou ayahuasca, obtido da raiz do cipó-mariri, Banisteriopsis caapi, o qual parece ser a base do chá. Uma outra planta, conhecida como chacrona, parece que também faz parte da infusão. Alucinógenos naturais como a harmina e a harmalina ocorrem nestas plantas. O primeiro efeito sentido são náuseas e vômitos. Alguns repórteres que participaram dos rituais, inclusive com filmagens mostradas na TV, não tiveram visões, mas sentiram náuseas, vômitos e diarréia. Isto leva a pensar que pelo menos parte dos sintomas são influenciados pelo ritual, ou que os alcalóides possuam um efeito "retardado" em termos de dependência, como a maconha. Não obstante, o que interessa na prática é se existe prejuízo à vida dos usuários e à sua comunidade, em termos físicos, sociais, psíquicos ou outros, e se existe um comportamento de busca da droga, apesar deste prejuízo. Não interessa muito, na prática, se a dependência é mais social ou mais bioquímica...
Algumas tribos indígenas da bacia Amazônica inalam uma preparação de uma leguminosa, conhecida como epena (Piptadenia peregrina e Virola calophylla), rica em DMT (dimetiltriptamina), um alcalóide alucinógeno de ação intensa e fugaz.
Com o avanço da tecnologia humana, também as drogas de dependência evoluem (ou involuem?), provocando dependência física mais profunda ou mais rápida, e efeitos perturbadores maiores, ou mais uma série de involuções. Toda uma safra de novas drogas apareceu nos últimos 10 anos; algumas já eram velhas conhecidas da ciência, sendo que duas em especial foram fracassos em terapia medicamentosa, acabando por ser "redescobertas" como drogas de dependência; muitas, não se sabe bem de onde vieram. Aparecem novas drogas todos os dias, com características novas, que desafiam qualquer classificação. Alguns destes novos alucinógenos têm efeitos estimulantes do SNC também, e algumas chegam ao bizarro de modificar seu comportamento conforme o usuário. Foram colocados entre os alucinógenos por terem efeito alucinógeno, mas também poderiam ser relatados entre as drogas estimulantes do SNC. Aparecem em um dia, e poucas semanas depois, já se alastraram, pois os sistemas de distribuição de drogas de dependência também evoluíram. Têm nomes químicos somente, que não chegam a ser abreviados por nomes mais facilmente lembráveis; acabam conhecidos somente "de nome" pelos médicos, ou melhor, "de abreviatura". Nas ruas, ganham apelidos que mudam de local para local, a ponto de haver confusão entre estas novas drogas. Terapeutas e pesquisadores não tem mais experiência ou tempo para conhecer cada um destes compostos em suas características, sendo que pesquisadores diferentes às vezes relatam opiniões definitivamente contrárias entre si. O médico de pronto-socorro nas grandes cidades dos EUA tem que atender pessoas intoxicadas "com alguma droga, ou com várias drogas, possivelmente das novas", o que dificulta qualquer ação terapêutica. Muitas vezes, a intoxicação nem é diagnosticada.
Estas drogas são ainda de aparecimento muito isolado no Brasil, produto de importação. Algumas, nem são relatadas, talvez por problemas de comunicação. No entanto, se seguirem o exemplo do crack, logo algumas delas se tornarão conhecidas por aqui.
A fenciclidina surgiu na década de 50, como um anestésico geral... que foi abandonado para uso humano pelos seus efeitos psicológicos e comportamentais potenciais. Podia ser um anestésico relativamente fraco, mas seus efeitos colaterais eram muito severos para uso humano: alucinações ao acordar, agitação, convulsões e arritmias. Foi relegada à anestesia veterinária. Em poucos anos, no entanto, estava à venda de forma ilegal para "fazer volume" e adulterar alucinógenos como o LSD, mescalina e até a maconha. Os usuários habituais de outros alucinógenos não apreciavam os efeitos psicológicos severos da fenciclidina. Esta droga somente se popularizou entre adolescentes durante os anos 70, vendida nos EUA sob nomes de rua sugestivos como "pó-de-anjo" ou "combustível de foguete". A droga se espalhou durante os anos 80 e 90, retomando, para acompanhar suas irmãs mais novas, a sigla PCP. É um problema de saúde pública nos EUA hoje, inclusive por ser facilmente sintetizada em laboratórios improvisados, apesar de ser uma "arilcicloexilamina". Mais do que qualquer droga, os usuários da fenciclidina mostram efeitos diferentes à droga, até mesmo radicalmente contrários. Tem profunda ação sobre o pensamento, a percepção de tempo, o senso de realidade, e o humor; estados oníricos (o usuário sente como se estivesse sonhando e não conseguisse acordar), depressão e euforia são relatados. Aspectos negativos do efeito da PCP incluem desorientação, confusão, ansiedade, irritabilidade, estados paranóides e comportamento perigosamente violento. Hostilidade e beligerância (a atitude de "procurar" briga) podem permanecer longo tempo após a droga não ser mais encontrada no sangue em exames de laboratório. Usuários crônicos podem desenvolver uma psicose aguda, a qual o mais experiente dos psiquiatras pode confundir com uma forma grave de esquizofrenia, a mais grave doença psiquiátrica. Como os depressores do SNC, a PCP produz um sentimento de isolamento, de descaso pelo mundo, e insensibilidade à dor. A combinação de ausência de dor, sintomas psicóticos e agitação produzem, muitas vezes, comportamento bizarro por vezes marcado por conduta violentamente destrutiva. A morte por ocorrer como resultado de depressão respiratória e perturbações da função cardíaca.
Duas potentes drogas de efeito tão desconcertante quanto o da fenilciclidina são as metanfetaminas. O nome "metanfetaminas", não obstante sua origem química, pode ser entendido como que dizendo algo como "além das anfetaminas": são drogas relacionadas às anfetaminas, mas que perderam parte do efeito estimulante e se tornaram alucinógenos sintéticos.
O "Êxtase" (MMDA), quimicamente portador do horrível nome de 4-metileno-di-óxi-anfetamina, foi inicialmente desenvolvido há cerca de 70 anos como um inibidor de apetite, sendo abandonado por seus efeitos colaterais. É um alucinógeno de curto efeito alucinógeno, de mais curto ainda efeito estimulante, e produtor de freqüentes sintomas negativos a longo prazo (depressão, apatia, desânimo, desinteresse...)
O "Ice" apareceu no final dos anos 80, sendo chamado já desde o berço de "a droga dos anos 90". É uma forma muito pura de metoxianfetamina, uma metanfetamina que pode ser tanto inalada como injetada intravenosamente. Os efeitos psicológicos duram por horas após a aplicação intravenosa (o que não é comum!), e são aterradoramente potentes. Diferentemente do crack, que necessita da importação da cocaína, o "ice" pode ser fabricado em fundos de quintal com substâncias inespecíficas adquiríveis em qualquer loja de produtos químicos.
Existem outros alucinógenos sintéticos, todos classificados com a fenilciclidina no grupo das arilcicloexaminas. O estudo destes DET, DPT, DOM/ STP é mais uma aula de nomenclatura química internacional que algo de fins práticos.
Estas drogas ainda não são um problema de Saúde Pública no Brasil. Quando o forem, o que se teme que ocorra até o início de 2001, provavelmente novas mudanças já terão ocorrido, em termos químicos e médicos.
Data de criação da primeira página da Associação na Internet: 22/05/98
Data da última atualização desta página: 30/05/00